quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Preconceito Religioso e a dificuldade de aceitar novos paradigmas

Falar de religião de forma que não cutuque a ferida de ninguém é praticamente impossível, haverá aqueles que leram esse post e o encararão como uma nova forma de enxergar as coisas, outros o verão como uma tentativa de desvirtuar o caminho da fé.

Bom, na realidade, o caminho da fé só pode ser desvirtuado ou modificado pelo seu paradigma, pelo seus sistemas de crenças, ou seja, por aquilo que você acredita. Portanto, fique tranquilo, aproveite a oportunidade para reforçar ainda mais no que você acredita, seja você de qualquer religião e até mesmo ateu.

O preconceito religioso já foi, e ainda é, motivo de disputas, discussões e até mesmo guerras, genocídios e massacres. Estudando um pouco de história podemos contar inúmeras vezes que batalhas e assassinatos aconteceram em nome de uma religião, em nome de uma crença, em nome daquilo que eles acreditavam ser o certo, o único caminho. O próprio nome do blog já diz, Todos os Caminhos Levam a Roma. O que acontece é que a pessoa tende a olhar aquele que pensa diferente do outro como um erro, como uma pessoa que está errada, errando e insisti em seu erro. Posto de outra forma, em uma pessoa diferente e má.

Sim, má. Acompanhe meu raciocínio, se você acredita em um Deus de amor, em um Deus que diz que ele é o caminho, a verdade e a vida, que ele é o que é de mais real e verdadeiro, o que você diria daquele que não é da sua religião? Herege! Se ele não acredita no mesmo Deus ele só pode ser seu inimigo, não é mesmo? Imagine, ele irá perpetuar sua fé em um Deus que não é o seu, irá criar desavenças de crenças, ira converter seus irmãos para uma outra fé, irão mergulha-los no erro e consequentemente suas almas irão encontrar um castigo infernal.

Infelizmente ainda há pessoas que pensam assim e não são poucas. O porquê disso ficará para outra ocasião, pretendo me manter apenas sobre o preconceito e o novo paradigma.

A necessidade do respeito
Preconceito gera desavença e desarmonia, isso é fato. Porque viver em desacordo e conflito sendo que podemos simplesmente aceitar um ao outro, respeitar e conviver em perfeita harmonia? Se você é cristão, já disse Jesus, grande mestre místico, “amai uns aos outros como ama a ti mesmo”, pronto. Precisamos mais que isso? Precisamos que alguma religião nos diga assim “Se aquele cara não acreditar em Deus, taca pedra” ou “vai lá, se explode e ganhe N virgens no céu”. Não, não é necessário nada disso. Além do que, como um Deus de amor, ou melhor, como qualquer divindade perfeita (onisciente, onipresente e onipotente, sabe tudo, vê tudo, pode tudo) pode ter qualquer sentimento humano? Imagina se Deus não fosse só amor, se ele tivesse cabeça quente. Um belo dia ele “acorda” com o pé esquerdo, bate na quina da mesa e diz “bom, descontar a raiva... Kablam, raios e trovões”. Isso é bastante ilógico não? Então, se em algum momento da história do nosso planeta esse mandamento de amai uns aos outros, esse simplesmente mandamento, fosse seguido ao pé da letra, não haveria conflito, não haveria guerra, não haveria desrespeito, competição, nada disso.

Amai uns aos outros como ama a ti mesmo, e como um passe de mágica, todo mundo seria feliz. Experimente.

Liberdade de escolha X Dogma religioso
Você poderá pensar e dizer o seguinte “mas parceiro, você acaba de se contradizer, você diz que deve haver respeito, mas acabou de falar mal da minha religião”. Não, não falei, eu não estou atacando nenhuma religião, estou expondo uma visão, um paradigma, de amor incondicional, de não haver uma necessidade real de seguir ao pé da letra de você apedrejar, explodir, converter, viajar, comer só certo alimento, infligir dor a outras pessoas.

Você tem total liberdade de acreditar em qualquer divindade, qualquer Deus. Esse é seu livre arbítrio em ação, essa é sua manifestação pessoal e individual de espiritualidade e deve ser respeitada assim como você deve respeitar a todas as outras. Contudo, sua liberdade acaba no exato momento em que você impõe sua religião a outra pessoa ou que ela causa dano, físico, material, espiritual, não importa. No momento que seu livre arbítrio ataca a saúde de outra pessoa, ele acaba, seja religiosamente falando, seja judicialmente, seja o que for.

Você pode ser um faquir? Pode. Você pode se acabar em auto flagelação, não tem problema. Se você encontra Deus dessa forma, que mal há? Agora, se você encontra Deus matando outra pessoa, amigo, você tem sérios problemas mentais. Quando eu insisto que todos os caminhos levam a Roma, é porque Deus só pode ser uma coisa, amor. Como você encontra Deus? Amando.

Ah, mas o faquir se mata, se auto flagela, se machuca, se “ama ao próximo como a ti mesmo” ele pode descer o chicote nos outros... Já viu como esse pensamento é ilógico? E ignorante? A auto flagelação acontece porque a pessoa acredita que merece ser castigada por algum ato, e se castigando, ela é purificada. Basicamente é isso, mas a outros motivos para auto flagelação (alcançar estados de êxtase por exemplo). Isso é, e deve, ser respeitado. Mas no momento que ele pega um chicote e desce nas costas de alguém porque ele não acredita, é de outra cor ou acredita em outra coisa, aí você vê que não existe respeito algum, não existe amor nesse ato, não existe nada além de uma ignorância sem tamanho.

O preconceito do Ateu
O que eu vejo atualmente em redes sociais é um ateu “a toa”. Você não acredita em Deus? Ok. Mas você realmente precisa atacar a religião alheia? Não. Antigamente, antes do advento da internet, os ateus costumam ser pessoas cultas, educadas e em sua grande maioria, amáveis e respeitosas. Porque? Exatamente porque viam em muitas religiões a violência e o massacre e optavam por não fazer parte disso. Agora, o que vejo em ateus (não todos, mas boa maioria), é uma moda boba que consiste em atacar a religião, em usar argumentos dos mais esdrúxulos possíveis para se auto afirmar que não acreditar em Deus é o certo. A visão desse tipo de ateu é tão limitada, que sequer sabem que existem outras religiões, outros caminhos, tantos outros caminhos... Como a maioria da população brasileira é cristã, a religião que sofre mais ataques é claro, é a cristã. Contudo, se você é ateu, você pode fazer a seguinte coisa; não acredite, não reclame. Eu sei que muita da comunidade cristã, inclusive o próprio dogma prega isso, tenta disseminar a sua religião, o que para muitos é irritante, mas ainda não é motivo para “revidar’.

Não quero dizer que o ateu deve procurar uma religião, só não leve em conta que todas as religiões são iguais. Ainda que o fim seja o mesmo, os dogmas são diferentes. Cabe ao ateu respeitar a escolha pessoal de cada indivíduo. Você acredita que “Adultos com amigos imaginários são estúpidos”? Tudo bem. Mas você acha certo incitar a raiva e a desarmonia só por causa disso? Respeite, seja respeitado. E quando você for atacado por não ter fé, respeite também, não revide, deixe que essa corrente de ódio e desavença acabe em você.

Perpetue o amor, crendo ou não, dessa forma, faremos do mundo um lugar melhor.

O preconceito do cristão
Agora é um ponto sensível. Entenda que nem todo cristão é preconceituoso, dito isso, continuemos. O preconceito cristão se dá basicamente em forma de defesa, mas não é contra o mal ou contra o pecado, é contra a mudança de paradigma. Deixe-me explicar; o cristão tem medo de ir para o inferno, então normalmente, quando um cristão é tragado a uma discussão religiosa ou cientifica, a não ser que ele tenha uma mente aberta, bem aberta, ele vai armar uma linha de defesa de argumentos para defender sua crença de uma forma que beira o ridículo (satã colocou os dinossauros para nos confundir). Contudo, deve-se levar em conta que o preconceito é sempre uma questão de ignorância, ou seja, devemos agir com tolerância com aqueles que nos atacam dessa forma. O cristianismo sempre foi um grande inimigo da ciência em geral, o que acarretou nos dias de hoje tanto conflito entre ciência e religião, mas não precisa ser assim. Atualmente há uma ascensão no nível de consciência, tanto cristã quanto cientifica, levando os dois lados da mesma moeda a finalmente se encontrarem.

Até lá, devemos nos esforçar para destruir velhos paradigmas, passar por cima da raiva e do ódio para podermos finalmente seguir as palavras dos grandes mestres, sejam eles Jesus, Buda ou quem quer que seja o Deus do seu coração.

O problema do fanatismo
Uma vez eu ouvi dizer que todo “ismo” é ruim. Não é exatamente isso (altruísmo é bom), mas boa parte deles sim. O religioso fanático, seja de qualquer religião, vai causar problemas. Lembram da questão sobre livre arbítrio? Ele acaba quando você atrapalha o do outro. O fanatismo já foi responsável por guerras, genocídios, massacres, barbáries inimagináveis que eu não vou comentar (nem dar link para vocês procurarem) para não disseminar esse ódio, mas ele existe, está aí, manchando a história da nossa humanidade.

Na realidade brasileira, durante muito tempo, até próximo ao período republicano, a liberdade de culto sofreu perseguições pelo Estado e pela Igreja do Estado, pois impediam a manifestação de outra crença sob argumentos os mais disparates, temendo a contestação à ideia de um só Estado e uma só religião. (RIBEIRO, 2002, p.38).

O fanatismo cega qualquer forma de paradigma. O fanático nunca vai olhar outro ponto de vista, pesar, analisar e tomar uma decisão. Ele vai apenas cruzar os braços e falar “dinossauros não existem, a terra tem 3000 anos, ciência é o diabo”. Poxa, isso é exatamente o que queriam que acreditássemos, que nos tornássemos. Já passou da hora de puxarmos o freio de mão, descer do carro e olhar a estrada que estamos seguindo.

Da necessidade de um novo Paradigma
O paradigma é tudo. Acreditem.

Você é aquilo que você pensa, lembram dessa frase? Você é aquilo que você acredita. Mas eu vou ser o Superman se eu vestir uma capa? Aí vem a fé e além da fé as leis que regem o universo. Não digo que você vá voar, mas já ouvi relatos de soldados que as balas simplesmente o erravam.

O que eu quero dizer com paradigma é tudo é que, no momento que você mudar a forma de enxergar as coisas, seu sistema de crenças, você muda você e o mundo ao redor. No momento que você troca o preconceito por amor, você está inundando o mundo inteiro de energia positiva, além de você mesmo e o amado, é claro. Imagine se Hitler amasse os judeus? Imagine o que seria da Alemanha hoje se Hitler tivesse adotado outra postura, ou se os inquisidores seguissem o tão aclamado “amai uns aos outros” etc. Vocês conseguem perceber a magnitude que um simples gesto pode fazer ao mundo? Pense nisso, reflita por um segundo:

Você tem preconceito contra alguém ou alguma fé?

Eu sei que tem, todos temos, pense novamente.

Agora imagine o preconceito sumindo e dando lugar ao amor, imagine você abraçando um ateu, um cristão, um mulçumano, um cientista, um político...

Viemos todos da mesma fonte e retornaremos todos para ela, um dia. Somos todos parte do Todo, somos todos partes de Deus, seja ele o seu, o meu, ou dos Esquimós.

Para concluir esse post, eu gostaria de deixar um verso de uma música do Gabriel, O Pensador. Sim, ele mesmo, jogue no chão o preconceito e reflita sobre esse verso.

“Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente
A gente muda o mundo na mudança da mente
E quando a mente muda a gente anda pra frente
E quando a gente manda ninguém manda na gente!
Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura
Na mudança de postura a gente fica mais seguro
Na mudança do presente a gente molda o futuro!”

Obrigado por lerem.
Sei que o post foi longo (você acaba de ler 4 páginas A4) mas sei que valeu a pena.
Meus mais sinceros votos de paz e compreensão a você leitor e até a próxima!




Quer ler mais? Entenda o porquê desse post:
Uma breve história para explicar o porquê desse post. Eu era cristão, batizado na Igreja Católica. Contudo, a forma que eu enxergava Deus não era por amor, eu não amava aquele Deus que era descrito na Bíblia, eu tinha medo dele. Medo de ir para o inferno, medo de cair em seu lado ruim. Me ocorreu que medo não é o que deve levar alguém a acreditar em Deus, e sim o amor. Ao encarar que tinha medo, decidi mudar, decidi encarar uma nova visão, procurar, realmente, aquele Deus que vive em meu coração e não um Deus que mandaram eu acreditar.

Veja, eu tenho amigos cristãos, amigos ateus, amigos “eu acredito em alguma coisa maior que eu”, tenho amigos que eram espiritas e viraram cristãos, cristãos que viraram pagãos e por aí vai. Aí, nesse momento, você poderá pensar que eles são “vira folha”, que na realidade eles estão perdidos, não sabem o que buscam, não tem fé. Não é bem assim, o que acontece é que eles foram postos em um caminho, em um sistema de crenças, que não condizia com o Deus de seu coração, com como eles compreendiam Deus. O que fizeram então foi procurar outro caminho, algo mais, outros olhares sobre a mesma questão. E encontraram. Você também pode encontrar se estiver disposto a abrir sua mente, encarar novos paradigmas, ver quem realmente habita seu coração. E por favor, não pense porque se você é cristão e sente que a religião muçulmana toca mais seu coração, que isso foi implantado pelo diabo. Não foi.

Vamos vencer o preconceito e intolerância religiosa, juntos.

Todos os caminhos levam a Roma, lembre-se disso.


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